sexta-feira, 8 de março de 2013

Parabens! Ou não...


Todo dia 8 de março viro a pessoa mais reflexiva do planeta, sinceramente não sei como responder aos votos de “parabéns”...
Parabéns pelo que? Pelos séculos de omissão, abusos, desvalorização?
Homens me desejem força, talvez me ache merecedora desse voto, eu disse talvez porque no fundo, bem no fundo da minha alma não me sinto como uma Mulher, com “m” maiúsculo, sabe?!
Mulher pra mim é minha vó, que carregou água do açude pra casa, trabalhou na roça, deu conta de cuidar de cinco filhos sozinha enquanto meu avô estava em São Paulo e lhe mandava um pouco de dinheiro mês sim, mês não, ela deu conta de educar rigorosa e carinhosamente  9 filhos e 2 netos, todos pessoas bem sucedidas, ou promissoras (pausa de 5 minutos para não chorar enquanto escrevo sobre ela), Mulher pra mim é ela  que mesmo sem ter sido alfabetizada, fez tudo para que seus filhos tivessem acesso a educação, mesmo tendo sido criada debaixo de olhos de águia e de uma certa ignorância da parte de sua mãe, soube amar seus  filhos e netos e ser aberta para as mudanças que acontece no mundo,  eu ainda sorrio do dia em que ela me perguntou  “Você esta tendo relações com seu namorado?”,  como ela  soube ser séria e ainda me dar liberdade pra lhe dizer que sim, essa Mulher pra que eu sempre vou poder falar o que acontece comigo, sem julgamentos, somente conselhos.
Mulher pra mim é minha mãe, que nasceu no nordeste, teve uma infância pesada, trabalhou na roça, cuidou dos irmãos, teve um pai extremamente rígido, que em 1990 me deu a luz e me registrou somente em seu nome, que mesmo sendo mãe solteira aos 17 anos terminou a escola e sempre trabalhou, sim ela teve a ajuda de outra grande Mulher (e dos irmãos, meus tios fizeram parte do meu processo de criação) pra poder dar conta, mas ela poderia não ter feito assim, poderia ter aberto mão de muitas coisas das quais ela não abriu.

Mulher são as mulheres do oriente médio que lutam pelos seus direitos de irem pras escolas, as que são estupradas e se mostram pedido justiça, aquelas que não têm medo de ir fazer feira e trazer um monte de sacola pesada pra casa, são as que não se dobram ao machismo da sociedade, Mulher é aquele casal de lesbicas que se assumem e muitas vezes acabam sendo agredidas por isso, a que acorda às 4h da manha e pegam trem lotado pra ganhar um salário mínimo, são aquelas que mesmo passando por todos esses problemas têm um sorriso nos lábios, um calor na alma.
Bom, e eu?
Eu moro numa cidade totalmente democrática, num país livre, eu visto o que eu quiser, ouço o que eu quiser, parei a faculdade porque achei que não estava num bom momento pra cursá-la, eu trabalho pra gastar dinheiro, nunca carrego sacolas de compras porque eu deixo que meu companheiro o faça, ele abre garrafas pra mim, eu não troco uma cadeira de lugar, se eu quisesse parar de trabalhar certamente minha família não me desampararia financeiramente, eu falo o que eu quiser, acho que o meu “m” nunca precisou ser maiúsculo, e no dia que eu precisar, talvez eu não saiba como, no dia em que eu me vir metida numa roubada, talvez eu corra pros braços da minha família e deixe que eles lutem no meu lugar, por esses motivos não me acho merecedora de “parabéns”.
Mulheres percebam que esse dia não foi feito para bajulações e mimos, foi feito pra que saiamos nas ruas e gritemos “EXIGIMOS IGUAL DADE ENTRE OS GENEROS”, eu não sei por que me dão flores e chocolate em memória de um grupo de Mulheres guerreiras que morreram por nossos direitos, por acaso é a isso que tenho direito?  
Hoje eu vou fazer o seguinte, em nome dos ideais pelo qual essas mulheres foram mortas, eu vou pagar a pizza com o meu dinheiro, porque se eu posso fazer isso, se eu recebo bem o suficiente e se minha jornada de trabalho é justa é graças a elas, então hoje de noite eu pago a conta, assim vou estar um passo mais perto do meu “m” ser maiúsculo. 

A Torre Negra